Cura interior em Deus (Parte IX)

Na meditação de ontem, comecei a abordar a “cura do subconsciente”. Antes de aprofundar o tema, gostaria de citar um versículo do Salmo 19: “Quem percebe os seus erros? Das faltas ocultas, purifica-me” (Sl 19, 13). Embora neste caso se refira a faltas que implicam culpa, podemos adaptar estas palavras e dirigi-las como um pedido ao Senhor: “Livra-me das correntes das quais não tenho consciência. Que elas não tenham domínio sobre mim!”. 

O exemplo a seguir ajudará a compreender o que quero dizer com “cura do subconsciente”. 

Há alguns anos, quando estava na Letônia (um pequeno país báltico no leste europeu), durante uma conversa com um grupo de fiéis, reparei que todos tinham um olhar profundamente triste. Perguntei-lhes, então, abertamente, por que razão tinham uma expressão tão triste. No início, não obtive qualquer resposta. 

Como conhecia um pouco da história da Letônia, sabia que o país tinha sofrido muito, tanto sob a ocupação nazista como sob o comunismo soviético. Por isso, perguntei aos presentes se sabiam dizer-me que consequências daqueles tempos ainda permaneciam nas suas almas. Provavelmente, nunca se tinham feito essa pergunta! No entanto, deram-me duas respostas que revelavam profundamente a realidade. 

A primeira foi: “Somos desconfiados”. A segunda foi: “Sentimos que não valemos nada”. 

Neste exemplo, é possível observar como o subconsciente fica marcado por experiências negativas que ainda não foram superadas. Essas pessoas não se aperceberam de que esses sentimentos negativos podiam ser, em grande parte, consequência da ocupação nazista e comunista que sofreram. Estes dois sistemas políticos e ideológicos, hostis a Deus, recorriam à espionagem e tratavam as pessoas das zonas ocupadas como se estas fossem inferiores. Portanto, é lógico que este período difícil, se não tiver sido superado, continue a afetar grande parte da população, sobretudo os idosos, deixando marcas profundas nas suas almas até aos dias de hoje. 

Devemos ter uma ideia concreta das sequelas. Talvez conheçamos pessoas com complexos de inferioridade ou que são desconfiadas. Talvez nós próprios experimentemos tais sentimentos, que se manifestam sobretudo nas relações com os outros. Nesse caso, as relações interpessoais carecem da liberdade necessária e limitam consideravelmente a espontaneidade do relacionamento. 

Mas, afinal, qual é o processo de cura que Deus oferece? 

Em primeiro lugar, seria útil tomarmos consciência das feridas e das informações falsas (como, por exemplo, “você não serve para nada”) que pesam sobre a nossa alma. Também podemos pedir ao Senhor que nos mostre. Uma vez conscientes do problema, podemos entregá-lo a Deus em oração e pedir ao Espírito Santo que nos cure. Mesmo que não conheçamos a raiz do problema, podemos simplesmente suplicar ao Senhor que nos liberte de todas as correntes que continuam a aprisionar o nosso interior. 

No caso da Letônia, as pessoas afetadas devem esforçar-se para recuperar a confiança, conscientes de que a situação atual é diferente e de que já não estão rodeadas de espiões que as poderiam trair e denunciar. Os sentimentos de desconfiança devem ser controlados pela razão, lembrando que a situação atual é diferente. Além disso, é necessário que sejam tocados pelo Espírito Santo para que a desconfiança se dissolva e dê lugar a uma atitude positiva perante a vida, sustentada pela confiança em Deus. 

Quanto aos complexos de inferioridade, é necessário compreender profundamente que o nosso valor reside no fato de sermos desejados, amados e redimidos por Deus. Isto é essencial! Se não tivermos consciência desta certeza e ela não penetrar nos nossos sentimentos, tornar-nos-emos dependentes da opinião dos outros e do seu afeto. Mesmo que haja pessoas que nos tratem mal, o nosso valor vem de Deus e não dos homens. A interiorização de certas citações bíblicas que nos falam sobre o quanto valemos para Deus ajudará a curar esses complexos. 

Dei este exemplo para deixar claro o que quero dizer quando falo da cura do subconsciente. 

No âmbito limitado das meditações diárias, só vos posso aconselhar a pedir ao Senhor que desça também ao vosso subconsciente e cure tudo o que ainda precisa de ser curado. Talvez então venham à luz coisas que ainda nos prendem e pesam sobre nós. Se isso acontecer, devemos colocá-las conscientemente diante do Senhor e pedir ao Espírito Santo que as purifique. Talvez assim o Senhor quebre as correntes que ainda nos prendem, mesmo sem termos consciência delas, e nos conceda uma expressão mais livre como homens redimidos por Cristo. 

Gostaria de concluir esta série sobre a “cura interior em Deus” com um cântico mariano da Geórgia, que tem um efeito especial na cura interior. A Harpa Dei cantou-o muitas vezes nas nossas missões, convidando as pessoas a apresentarem as suas feridas interiores ao Senhor, inclusive as que desconhecem. É precisamente isso que desejo aos que acompanharam esta série de meditações. 

 Meditação sobre o evangelho do dia: https://br.elijamission.net/a-porta-estreita/ 

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