Cura interior em Deus (Parte VIII)

Antes de abordar outro aspecto relacionado com a cura da alma, que se distingue, de certa forma, dos subtemas anteriores, considero muito importante explicar este processo clássico de cura através da prática da verdadeira fé católica. 

Ao longo desta série, tenho insistido que a verdadeira fé é uma condição essencial do processo de cura interior. Com isto, não me refiro apenas a evitar recorrer a terapias questionáveis oferecidas no âmbito esotérico, mas também a apegarmo-nos à fé tradicional dentro da Igreja, sem nos deixarmos contagiar pelas deformações modernistas. Qualquer desvio terá consequências que retardarão ou impedirão a cura interior. No pior dos casos, as feridas da alma podem até agravar-se. 

“Os pensamentos tortuosos afastam de Deus” (Sab 1, 3). Portanto, o fundamento de um verdadeiro processo de cura é aceitar e pôr em prática a Sagrada Escritura e a doutrina autêntica que a Igreja anuncia por mandato de Deus. Desta forma, a luz do Espírito Santo penetra no nosso pensamento e o ordena. Esta luz é como uma fonte de água cristalina que flui para a nossa alma sem qualquer contaminação. 

Se os pensamentos tortuosos nos afastam de Deus, como nos ensina o Livro da Sabedoria, o mesmo acontece com as falsas doutrinas. Assim que a doutrina reta é obscurecida, relativizada ou de alguma forma obscurecida, já não nos pode conceder a sua força, luz e orientação. Então, um obscurecimento interpõe-se entre a luz do Espírito Santo e o nosso entendimento, desviando e confundindo os nossos pensamentos. Nos casos mais graves, pode ocorrer até uma certa cegueira. A alma é privada do alimento saudável e o veneno das falsas doutrinas começa a fazer efeito. 

O que disse em relação à doutrina aplica-se também à moral. Enquanto guardarmos os Dez Mandamentos, tal como a Igreja nos ensina, sem ambiguidades, o nosso foco permanecerá centrado em Deus, apesar de todas as nossas fraquezas. No entanto, assim que nos desviamos das claras diretrizes morais, a nossa alma desvia-se e corre o risco de ser escravizada pelo pecado. 

Tudo o que tentei recordar ao longo das sete primeiras meditações desta série sobre a cura só é possível se estiver fundamentado numa fé católica sem distorções, algo que, infelizmente, nos dias de hoje já não é natural. É por isso que insisto repetidamente que a Sagrada Escritura e a autêntica doutrina da Igreja devem ser a nossa referência para iniciarmos um processo de cura. 

A cura do subconsciente 

Não gostaria de terminar esta série sobre a cura da alma sem abordar um tema que costumo tratar com mais detalhe nos retiros espirituais. Trata-se da cura do subconsciente. Neste contexto, não podemos aprofundar o tema, mas dada a sua importância, convém explicá-lo, pelo menos, brevemente. 

De fato, o Senhor é o Salvador do ser humano na sua totalidade; ou seja, o seu amor curador deve alcançar as profundezas mais íntimas. 

Nas meditações anteriores, falamos principalmente sobre a cura daquilo de que temos consciência. No entanto, na nossa alma existe um vasto domínio do qual muitas vezes não temos consciência ou apenas temos uma consciência parcial. Pode acontecer que, apesar de nos esforçarmos sinceramente para seguir o Senhor, haja certos problemas na nossa vida que não conseguimos controlar e que podem continuar a dominar-nos e a limitar a nossa liberdade. 

Não me refiro a determinados sofrimentos que o Senhor nos possa ter deixado, como aconteceu com São Paulo, que tinha um “espinho na carne” que Deus permitiu para que o Apóstolo não se ensoberbecesse (cf. 2 Cor 12, 7). Refiro-me a certas paralisias interiores, apegos inconscientes e feridas que ainda estão abertas e fazem com que as nossas reações perante determinadas circunstâncias da vida não sejam saudáveis. Neste contexto, podemos falar de certas “correntes” que ainda pesam no nosso subconsciente ou nos prendem. 

Insisto que não me refiro aos problemas comuns que sofremos como consequência do pecado original e dos nossos pecados, problemas esses que procuramos superar com a graça de Deus. Refiro-me antes a certos fardos que não nos deixam livres em determinados aspectos e dos quais não temos consciência. 

Amanhã, na meditação, darei alguns exemplos para compreender o que é a cura do subconsciente. 

 Meditação sobre o evangelho do dia: https://br.elijamission.net/2023/08/26/ 

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