Jo 12,12-26
No dia seguinte, uma grande multidão de povo, que tinha ido à festa, ouvindo dizer que Jesus ia a Jerusalém, tomou ramos de palmas, saiu ao seu encontro e clamava: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel”. Jesus encontrou um jumentinho, e montou em cima dele, segundo está escrito: ‘Não temas, filha de Sião; eis que o teu Rei vem montado sobre um jumentinho (Zc 9,9)’.
A princípio, os seus discípulos não compreenderam estas coisas, mas quando Jesus foi glorificado, então lembraram-se de que estas coisas tinham sido escritas dele e que eles mesmos tinham contribuído para o seu cumprimento. A multidão que estava com ele, quando chamou Lázaro do sepulcro e o ressuscitou dos mortos, dava testemunha dele. Por isso, lhe saiu ao encontro a multidão, porque ouviram dizer que tinha feito este milagre. Então os fariseus disseram entre si: “Vedes que nada aproveitas? Eis que todos correm atrás dele”.
Ora havia lá alguns gregos, entre aqueles que tinham ido adorar a Deus durante a festa. Estes aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e fizeram-lhe este pedido: “Senhor, desejamos ver Jesus”. Filipe foi dizê-lo a André; André e Filipe disseram-no a Jesus. Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que o Filho do homem será glorificado. Em verdade, em verdade, vos digo, que se o grão de trigo, que cai na terra, não morrer, fica infecundo; mas, se morrer, produz muito fruto. […]”.
Durante um curto período, a realidade em Jerusalém foi como deveria ser. O povo saudou o verdadeiro Rei de Israel e saiu ao seu encontro. Neste acontecimento, manifesta-se a verdade e reconhece-se a missão que Israel foi chamado a cumprir para toda a humanidade. Não se trata de um rei humano, mas do Rei do céu que veio à terra para redimir o seu povo. Ele entra na “cidade do grande Rei” (Mt 5,35), ou seja, em Jerusalém, a cidade escolhida por Deus. Que alegria e que graça o Pai Eterno concede ao seu povo! Aquele que merece todo o louvor, toda a honra e toda a glória está a chegar.
E como é que Ele entra na Sua cidade? O Rei do Céu, pelo contrário, vem à filha de Sião montado num jumento, tal como as Escrituras tinham predito, e o grito de júbilo nunca deveria extinguir-se, mas continuar a ressoar por toda a eternidade: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!”
Tudo isto aconteceu diante dos olhos dos discípulos, mas estes só compreenderam o que se tinha passado após a glorificação de Jesus. Mais tarde, quando o Espírito Santo desceu sobre eles e lhes permitiu compreender, à Sua luz, muitas coisas que até então lhes tinham ficado veladas, aperceberam-se de que as Escrituras se tinham cumprido neste acontecimento.
A notícia da ressurreição de Lázaro contribuiu muito para que as pessoas reconhecessem Jesus, pois o testemunho dos que tinham presenciado este sinal extraordinário chegou aos ouvidos dos que se tinham reunido em Jerusalém para a festa. Muitos foram ao seu encontro com palmas nas mãos e cânticos de louvor.
Mais uma vez, encontramos o contraste entre a luz e a sombra. Por um lado, vemos como a fé no Messias, tão necessária para a salvação, se propaga. As pessoas correm ao encontro do verdadeiro rei de Israel e os seus corações devem abrir-se para que o Senhor possa reunir os seus “como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das asas” (Mt 23,37). O que teria acontecido se todas as pessoas se tivessem deixado transformar pela graça? Graças às palavras de S. Paulo, podemos ter uma ideia da bênção que teria sido para toda a humanidade:
“Pois se a sua reprovação é a reconciliação do mundo, que será a sua restauração senão a vida dentre os mortos?” (Rm 11, 15).
No entanto, infelizmente, muitos dos líderes religiosos da época opuseram-se ao Senhor e agarraram-se à sua mentalidade fechada.
A hora do Senhor está próxima, como Ele próprio afirma: “Chegou a hora de o Filho do Homem ser glorificado“. A hora em que Ele manifestará o seu amor infinito pelo Pai e por nós, homens; a hora em que Ele será “obediente até à morte e morte de cruz” (Fil 2,8); a hora em que Ele será imolado como Cordeiro de Deus para pagar o pecado do mundo (cf. Jo 1,29).
A glorificação de que Jesus fala é diferente da que habitualmente se imagina. Não são os triunfos gloriosos no campo de batalha, nem as medalhas dos grandes feitos desportivos, nem os êxitos científicos de primeira ordem que glorificam o homem, mas os atos de verdadeiro amor a Deus e ao próximo. É isso que Jesus nos mostra: o que há de mais glorioso é o seu amor a Deus, seu Pai e nosso Pai, e o seu amor aos homens, que Jesus faz seus irmãos e pelos quais dá a vida.
“Se o grão de trigo, ao cair na terra, não morrer, fica infrutífero; mas se morrer, produz muito fruto“. É o que Nosso Senhor faz e assim é glorificado.