Jo 16,25-33
Tenho-vos dito estas coisas em parábolas. Mas vem o tempo em que não vos falarei já por parábolas, mas abertamente vos falarei do Pai. Nesse dia pedireis, em meu nome, e não vos digo que hei-de rogar ao Pai por vós, porque o mesmo Pai vos ama, porque vós me amastes e crestes que saí do Pai. Saí do Pai e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo e vou para o Pai”.
Os seus discípulos disseram-lhe: “Eis que agora falas claramente, e não usas nenhuma parábola. Agora conhecemos que sabes tudo, e que não é necessário que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus”. Jesus respondeu-lhes: “Credes agora? Eis vem a hora, e já chegou, em que sereis espalhados, cada um para seu lado, e em que me deixareis só; mas eu não estou só, porque o Pai está comigo. Disse-vos estas coisas, para que tenhais paz em mim. Haveis de ter aflições no mundo; mas tende confiança, eu venci o mundo”.
O Pai celestial ama aqueles que acreditam em seu Filho, pois essa é a sua vontade para todos os homens. Ao aceitar Jesus, amá-Lo e segui-Lo, a pessoa vive na graça de Deus, e o amor divino pode chegar até ela.
Não há dúvida de que Deus ama todos os seres humanos. Caso contrário, não teria enviado o seu Filho para redimi-los. Com um amor solícito, nosso Pai procura cada pessoa para salvá-la. No entanto, há uma diferença decisiva: quem obedece a Jesus começa a moldar sua vida por esse amor que o encontrou e se deixa conscientemente formar por ele. A luz de Deus brilhou sobre ela, fazendo com que ela desperte cada vez mais das trevas. Se percorrer o seu caminho com fidelidade, o Filho de Deus tomará cada vez mais forma nele, e o seu modo de pensar e agir se tornará cada vez mais semelhante ao de Jesus, pois ele fixou a sua morada nele. O Espírito Santo o guia e ilumina.
Que dádiva para toda a humanidade! Originalmente, essa graça foi oferecida de forma especial ao povo de Israel, o “primogênito”. Ainda hoje, o fato de tão poucos judeus terem reconhecido seu Messias continua a ser uma grande tristeza e uma tarefa inacabada. Quando ouvimos São Paulo, um dos fariseus mais destacados do povo judeu, que passou de perseguidor a pregador, podemos ter uma ideia da tristeza de Deus diante dessa incredulidade: “Digo-vos a verdade em Cristo, não minto, e a minha consciência me dá testemunho no Espírito Santo: sinto uma tristeza muito grande e uma dor contínua no meu coração. Porque quero pedir a Deus que eu mesmo seja anátema de Cristo, por amor dos meus irmãos, que são da mesma linhagem que eu segundo a carne” (Rm 9,1-3).
Como ele desejava convencer os seus “irmãos segundo a carne” de Jesus Cristo! Certamente esse continua sendo o seu grande desejo. No entanto, ao longo dos séculos, foram relativamente poucos os judeus que aceitaram a graça de Deus.
Todos os discípulos escolhidos por Deus permanecem fiéis a ele, exceto Judas, mas a sua fé ainda não é suficientemente forte. Eles ainda não são capazes de suportar todas as circunstâncias da captura e da morte de seu Mestre. Precisam ainda do Espírito Santo que lhes será enviado para fortalecê-los e permitir que permaneçam firmes nas perseguições que lhes sobrevirão, chegando até mesmo a dar a vida por Jesus.
Embora os discípulos se dispersem quando Jesus for preso, Ele não estará sozinho nesse momento. Essas palavras podem trazer conforto e certeza aos cristãos de todos os tempos. Na grande aflição que é a perseguição e o sofrimento, onde muitas vezes não há ninguém para nos ajudar, o nosso Pai está sempre presente para nos acompanhar. Jesus nos garante isso! Ele é um conforto para aqueles que se sentem impotentes para ajudar os outros em sua grande necessidade. Deus ajuda os perseguidos! Quando esgotamos as nossas possibilidades, Ele continua ao lado deles. Por isso, podemos rezar por eles e ajudá-los.
Por fim, Jesus encoraja seus discípulos. Ele não os deixa na ignorância sobre o que os espera. De fato, sua própria vida e morte lhes mostraram isso. Eles devem estar cientes da hostilidade do mundo, que também se voltará contra eles se permanecerem fiéis ao Senhor. Mas é precisamente Ele que lhes dará a força para vencer o mundo, ou melhor, para conquistá-lo. Seus corações permanecerão centrados em Deus e nada, nem as seduções do mundo nem os ataques de dentro e de fora, poderão afastá-los d’Ele. Assim, os apóstolos nos servem de exemplo, assim como tantos outros que não se deixaram vencer pelo mundo, mas permaneceram firmes em seu testemunho de Cristo. Pela graça de Deus, isso é e continuará a ser possível, mesmo em tempos de dura perseguição, quando os poderes anticristãos cercam os fiéis e alguns deles têm de oferecer o sacrifício do seu sangue.
Nessas horas, recordemos o que o Senhor disse aos seus discípulos pouco antes de sua Paixão e Morte, e deixemo-nos encorajar por suas palavras:
“Haveis de ter aflições no mundo; mas tende confiança, eu venci o mundo”.
