O EVANGELHO DE SÃO JOÃO | “A ressurreição de Lázaro”

Jo 11,28-46 

 Dito isto, retirou-se, e foi chamar em segredo sua irmã Maria, dizendo: “O Mestre está cá, e chama-te”. Ela, logo que ouviu isto, levantou-se rapidamente, e foi ter com ele. Jesus ainda não tinha entrado na aldeia, mas estava ainda naquele lugar, onde Marta saíra ao seu encontro. Então os judeus, que estavam com ela em casa, e a consolavam, vendo que Maria se tinha levantado tão depressa e tinha saído, seguiram-na, julgando que ia chorar ao sepulcro. 

Maria, porém, tendo chegado onde Jesus estava, logo que o viu, lançou-se aos seus pés, e disse-lhe: “Senhor, se tivesses estado aqui, não teria morrido meu irmão”. Jesus, vendo-a chorar, a ela e aos judeus, que tinham ido com ela, comoveu-se profundamente e perturbou-se; depois perguntou: “Onde o pusestes?”. Eles responderam: “Senhor, vem ver”. Jesus chorou. Os judeus, por isso, disseram: “Vejam como ele o amava”. Porém alguns deles disseram: “Este, que abriu os olhos ao que era cego de nascença, não podia fazer que este não morresse?”. 

Jesus, pois, novamente comovido no seu interior, foi ao sepulcro. Era este uma gruta à qual estava sobreposta uma pedra. Jesus disse: “Tirai a pedra”. Marta, irmão do defunto, disse-lhe: “Senhor, ele já cheira mal, porque já aí está há quatro dias”. Jesus disse-lhe: “Não te disse eu que, se tu creres, verás a glória de Deus?”. Tiraram, pois, a pedra. Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: “Pai, dou-te graças, porque me tens ouvido. Eu bem sabia que me ouves sempre, mas falei assim por causa do povo que está à roda de mim, para que creiam que tu me enviaste”. Tendo dito estas palavras, bradou em alta voz: “Lázaro, sai para fora”. E saiu o que estivera morto, ligado de pés e mãos com as ataduras, e o seu rosto envolto num sudário. Jesus disse-lhes: “Desligai-o e deixai-o ir”. Então muitos dos judeus que tinham ido visitar Maria e Marta, vendo o que Jesus fizera, creram nele. Porém alguns deles foram ter com os fariseus, e contaram-lhes o que Jesus tinha feito. 

Tinha chegado o momento! Jesus tinha preparado os seus discípulos, incluindo Marta, para o que iria acontecer com a ressurreição de Lázaro. De fato, a ressurreição de um morto ultrapassa em muito a compreensão humana, pois manifesta um poder divino que não pode ser negado. Basta pensar na ressurreição de Jesus. Os seus inimigos não tiveram outro remédio senão subornar os guardas para que não testemunhassem o que tinha acontecido (Mt 28, 11-15). A verdade e as suas consequências têm de ser suprimidas, seja por meio de engano ou de mentira. Foi o que os sumos sacerdotes quiseram fazer mais tarde no caso de Lázaro. 

Hoje, vemos o Senhor realizar o milagre da ressurreição de Lázaro à vista de todos os presentes. Deus quis que as pessoas testemunhassem este sinal, que Jesus testemunha como obra de Deus, para que acreditassem que Ele o tinha enviado.  

Marta ainda não tinha percebido que o seu irmão ia realmente ressuscitar em carne e osso e avisou Jesus de que ele já estava no túmulo há quatro dias e cheirava muito mal. Jesus respondeu-lhe: “Não te disse eu que, se tu creres, verás a glória de Deus?”  

Então, todos os presentes assistiram a um acontecimento incrível: depois de a pedra ter sido revolvida, Lázaro saiu do túmulo, cumprindo a palavra do Senhor. Assim, ficou claro para todos que Jesus tem poder não só sobre a doença, mas também sobre a morte. Os paralíticos e os cegos são curados; o morto Lázaro ressuscita. 

É tão evidente que Jesus age em virtude da autoridade que Deus lhe concedeu que só podia haver uma resposta coerente por parte das pessoas que assistiram a este acontecimento. De fato, foi assim: “Muitos judeus que tinham ido a casa de Maria, ao verem o que Jesus fizera, acreditaram nele“. Aqui vemos a resposta adequada ao milagre de Jesus. 

Na missão de levar o Evangelho a todos os homens, sempre houve lugar para estes sinais extraordinários e visíveis da graça, tanto para testemunhar a bondade de Deus como para dar credibilidade aos seus mensageiros. O próprio Jesus tinha enviado os seus discípulos, dizendo-lhes: “Ide e pregai: o Reino dos Céus está próximo. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios” (Mt 10, 7-8). 

Após a sua ressurreição, assegurou-lhes:  

Estes milagres acompanharão os que acreditarem: em meu nome expulsarão demónios, falarão novas línguas, agarrarão serpentes com as mãos e, se beberem algum veneno, não lhes fará mal; porão as mãos sobre os doentes e eles ficarão curados. (…) E eles, partindo dali, pregavam por toda a parte, e o Senhor cooperava e confirmava a palavra com os milagres que a acompanhavam” (Mc 16, 17-18.20). 

Neste contexto, é importante ter presente a hierarquia dos valores. A fé baseia-se na Palavra de Deus e os sinais vêm juntar-se a ela para a confirmar. Assim, a fé propaga-se como Deus quer e pode desenvolver toda a sua fecundidade naqueles que a abraçam. 

É um grande dom de Deus aos homens o fato de Ele, na sua sabedoria inesgotável, utilizar todos os meios possíveis para os atingir e convencer de que Jesus foi enviado por Ele. A ressurreição de Lázaro foi um sinal impressionante. Foi tão impactante que suscitou nos judeus hostis a reação que brota do abismo profundo de um coração perverso, sob a influência daquele que era “homicida desde o princípio” (Jo 8,44): Estavam completamente fechados à verdade e foi essa obstinação que levou à morte de Jesus. 

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