O EVANGELHO DE SÃO JOÃO | “A cura do homem cego de nascença”

Jo 9,1-12 

 Passando Jesus, viu um homem cego de nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”. Jesus respondeu: “Nem ele nem seus pais pecaram; mas foi para se manifestarem nele as obras de Deus. Importa que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”. Dito isto, cuspiu no chão, fez lodo com a saliva, e ungiu com o lodo os olhos do cego. Depois disse-lhe: “Vai, lava-te na piscina de Siloé (que quer dizer Enviado)”. Foi, lavou-se e voltou com vista. 

Então os seus vizinhos e os que o tinham visto antes pedindo esmola, diziam: “Não é este aquele que estava sentado e pedia esmola?”. Outros diziam: “É este”. Outros porém: “Não é, mas é outro, que se parece com ele”. Porém ele dizia: “Sou eu”. Perguntaram-lhe: “Como te foram abertos os olhos?”. Ele respondeu: “Aquele homem, que se chama Jesus, fez lodo, ungiu os meus olhos e disse-me: Vai à piscina de Siloé, e lava-te. Fui, lavei-me, e vejo”. Perguntaram-lhe: “Onde está ele?”. Respondeu: “Não sei”. 

As obras de Deus devem ser manifestas. Esta é a intenção especial por trás da cura do cego de nascença, bem como da boa ação realizada em benefício deste homem sofredor. Tudo o que Jesus diz e faz tem por objetivo revelar ao povo judeu a autoridade divina com que Ele realiza as obras do seu Pai, que é também o seu Pai. É preciso que acreditem nele para se salvarem e compreenderem que o Messias, por quem tanto esperaram e para cuja vinda se prepararam, está agora no meio deles.  

 Um escrito de Moisés Maimônides, um dos mais importantes rabinos do século XIII, pode servir de exemplo de como o povo judeu esperava a vinda do Messias, uma esperança que ainda hoje persiste entre os judeus crentes. Nos seus Treze Artigos de Fé, ele descreve o ponto 12 da seguinte forma: 

[O décimo segundo princípio consiste em] saber com certeza que o Messias virá e não pensar que ele se atrasará e, por mais que se atrase, esperá-lo-emos. (…) É nosso dever engrandecê-lo, amá-lo e rezar por ele, tal como profetizaram sobre ele desde Moisés até Malaquias.” 

Esta expetativa do Messias estava bem viva no tempo do Senhor, pelo que é particularmente doloroso que muitos escribas e fariseus tenham permanecido fechados ao espírito, tendo assim cumprido as palavras do prólogo de S. João: “Veio para os seus e os seus não o receberam” (Jo 1,11). 

O próprio Jesus sabia que o seu tempo na Terra era limitado e que, enquanto estivesse no mundo, seria a luz que iluminaria todos os que a recebessem.  

Por isso, foi ter com o cego para se compadecer dele e realizar um novo sinal, não só para curar o homem que tinha diante de si, mas também para que todos os que não o reconhecessem fossem curados da sua cegueira e os seus olhos se abrissem. 

Esta cura é, portanto, um sinal de grande significado, cujo sentido não se limita ao tempo da sua vida terrena. Infelizmente, muitas pessoas são incapazes de reconhecer a graça que nos é oferecida em Jesus. De fato, o Messias não veio apenas para o povo de Israel, mas os seus discípulos receberam dele o mandato de levar o Evangelho até aos confins da Terra (Mt 28,19-20), tornando-se assim eles próprios a luz do mundo e o sal da Terra (Mt 5,13-14). 

Ao encontrar-se com Jesus, todo o ser humano pode ser curado da sua cegueira e começar a ver. Quando a luz da fé penetra no seu coração, os seus olhos interiores abrem-se e ele começa a ver com os olhos de Jesus; ou seja, a luz começa a brilhar nele, ensinando-o a compreender os planos de Deus para o homem e para si mesmo. 

E assim se cumprem estas outras palavras do prólogo de S. João: “Mas a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, aos que acreditam no Seu nome” (Jo 1,12). 

Jesus fez lama com a sua saliva, com a qual untou os olhos do cego, e mandou-o lavar-se na piscina de Siloé. Siloé significa “Enviado” e Jesus quis certamente relacionar este sinal com a piscina com o mesmo nome, para que os judeus tivessem mais uma pista para reconhecer quem ele era. 

O homem fez o que Jesus lhe disse e recuperou a visão. Todo este acontecimento foi motivo de grande alegria, pois, como o homem curado disse mais tarde aos fariseus, “nunca se ouviu dizer que alguém tivesse aberto os olhos a um cego de nascença” (Jo 9,32). 

No entanto, os fariseus que ouviram falar do milagre de Jesus não puderam alegrar-se com este sinal extraordinário, nem o fizeram refletir. Nem Jesus conseguiu conquistar os seus corações com este sinal claro e evidente do amor de Deus. Pelo contrário, como ouviremos amanhã, permaneceram fechados a Jesus. 

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