Marcados com a cruz de cinzas, avançamos neste santo itinerário quaresmal em direção a uma conversão mais profunda. Através do jejum fornecemos boa lenha para o fogo do amor e em tudo mantemos nosso olhar fixo em Deus, sem buscar o louvor dos homens.
Como os discípulos, estamos a caminho com o Senhor, e nesta jornada também pode haver ventos contrários e até tempestades, como nos dizem os Evangelhos (Mt 8,23-27; Lc 8,22-25; Mc 4,35-41).
Mas o Senhor não nos deixa sozinhos e sempre intervirá em nosso favor precisamente quando pensamos que o barco está afundando e que estamos indefesos diante das tempestades. Nestas condições, o Senhor exortou os discípulos a acreditarem e confiarem nEle. E então Ele acalmou a tempestade.
Aqui temos uma lição importante para nós…
Por mais que gostaríamos que o barco de nossa vida deslizasse serena e pacificamente, nem sempre pode ser assim neste mundo. Portanto, temos que aprender a enfrentar as circunstâncias adversas confiando no Senhor, e vê-las também como uma escola através da qual Ele nos forma.
Se queremos crescer na fé – e precisamos fazê-lo, para não ficarmos “anões na fé” – então não podemos contentar-nos em beber apenas “leite”, como diz São Paulo com acerto (1 Cor 3,2), mas precisamos também de alimentos sólidos. As lutas e adversidades que temos que enfrentar, tornando-nos capazes de carregar nossas cruzes, são alimentos sólidos.
À medida que nossa fé cresce, adquiriremos mais coragem e força em nosso caminho, das quais precisaremos cada vez mais. Então, as dificuldades que se acumulam se tornam para nós provas a serem vencidas no Senhor. Como um fruto precioso, a fé se enraíza mais profundamente em nossa alma e o medo e a ansiedade vão desaparecendo.
As adversidades podem vir de dentro ou de fora, e devemos estar preparados para elas. Isto não significa, de forma alguma, que precisemos saber tudo o que pode nos sobrevir e que nossa fantasia imagine muitos cenários para nos deixar inquietos.
A preparação adequada para as adversidades de todos os tipos é aprofundar nossa fé diariamente. São Paulo nos exorta a embraçar o escudo da fé, a fim de poder “apagar todos os dardos inflamados do Maligno” (Ef 6,16). Ele considera aqueles que seguem o Senhor também como guerreiros, que devem revestir-se da armadura de Deus a fim de oferecer resistência aos inimigos invisíveis: os demônios.
À medida que nossa fé aumenta e superamos as provas nos combates inevitáveis, cresce também a verdadeira serenidade. Sabemos e experimentamos que o Senhor está sempre conosco e nunca nos abandona, que Ele nos dá tudo o que precisamos para permanecer firmes nos enfrentamentos. E se formos derrotados, Ele nos levantará novamente.
A verdadeira serenidade vem da confiança na presença do Senhor e da certeza de que Ele vai transformar tudo para melhor. Esta convicção nos dá segurança no santo itinerário que começamos. No entanto, nossa atenção não deve ser voltada para as lutas e dificuldades que podem nos sobrevir, mas para o próprio Senhor.
Como, então, podemos crescer na fé?
Podemos começar quando nos levantarmos pela manhã e pedimos ao Senhor a graça do dia que temos pela frente. Como os discípulos, oramos a Ele: “Aumenta-nos a fé” (Lc 17,5), e depois lhe apresentamos esta intenção em nossas práticas religiosas. Ele nos ouvirá!
Depois temos que estar atentos ao decorrer do dia, tanto as coisas habituais que sempre vêm ao nosso encontro, quanto as coisas inesperadas que podem aparecer. Devemos sempre tentar permanecer em um diálogo interior com Deus e olhar os acontecimentos do dia a partir de Sua perspectiva. Desta forma, nossa visão da vida mudará cada vez mais. Não será mais simplesmente uma série de vários eventos e obrigações que teremos que enfrentar; mas o dia de hoje é exatamente a oportunidade que o Senhor nos oferece para crescer na fé, na esperança e no amor.
“Este é o dia que o Senhor fez para nós” (Sal 117,24).
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Meditação sobre a leitura de hoje: http://br.elijamission.net/2022/03/05/