Depois de falarmos sobre oração e abordarmos três formas muito eficazes de combate espiritual — a oração do coração, o Santo Rosário e a adoração eucarística —, voltamos agora àquele pequeno encontro entre alguns padres do deserto em torno do abade Santo Antônio, com o qual iniciamos nossas meditações quaresmais. Daquela conversa, retiramos o conceito de “discrição”, que significa “discernimento dos espíritos”. Inspirados por esse termo, olhamos para a situação na Igreja e no mundo. Como conclusão, ficou claro que os fiéis devem se alistar no combate espiritual, pois os líderes da Igreja estão disseminando erros graves.
Neste contexto, gostaria de relembrar mais uma vez a série sobre “As cinco chagas da Igreja” (https://es.elijamission.net/wp-content/uploads/2025/03/LAS-CINCO-HERIDAS-DE-LA-IGLESIA.pdf), que nos ajudará a compreender mais profundamente a crise existencial da Igreja. É importante que os fiéis despertem e tomem consciência de que não podem simplesmente “nadar com a corrente” e seguir a direção traçada pela atual hierarquia sem serem arrastados pelos seus erros.
Há alguns dias, o bispo auxiliar Athanasius Schneider, um dos poucos que criticaram abertamente certas decisões do atual pontificado, pediu a Francisco, após seu regresso do hospital, que se retratasse de alguns atos realizados durante seu pontificado, de alguns documentos e de algumas palavras que criaram confusão e com as quais minaram a clareza da fé divina.
Em uma entrevista com o radialista Joe McClane 1, Monsenhor Schneider explicou como essa correção necessária poderia ser feita. Francisco deveria publicar um documento restaurando a verdade da fé e condenando os erros mais difundidos na Igreja contemporânea. Segundo ele, isso seria necessário para que as confusões e ambiguidades que surgiram durante o seu pontificado pudessem ser corrigidas com a sua própria pena.
De acordo com o bispo, isso incluiria a retirada explícita da exortação apostólica Amoris Laetitia e a abolição completa da “blasfêmia de Fiducia Supplicans“, na qual Francisco permitiu bênçãos para casais do mesmo sexo. O bispo também afirma que “o infame documento de Abu Dhabi deve ser claramente retratado para preservar a autenticidade da fé católica, bem como o processo sinodal e a recente extensão de três anos aprovada pelo papa Francisco”.
Desde sua publicação, em 2019, o bispo Athanasius Schneider criticou repetidamente o Documento sobre a Fraternidade Humana, assinado em Abu Dhabi. Em particular, ele reprovou a frase que afirma que “a diversidade das religiões (…) é uma expressão de uma sábia vontade divina com a qual Deus criou os seres humanos”, pois tal afirmação “é claramente oposta à revelação divina e contradiz diretamente o primeiro mandamento de Deus, que é sempre válido: ‘Não terás outros deuses além de mim’”. O documento de Abu Dhabi, segundo ele, “contradiz todo o Evangelho”.
Em relação ao conteúdo, concordo plenamente com o bispo Schneider. No entanto, embora para Deus tudo seja possível e, por isso, não o posso excluir, não acredito que o pontífice redigisse tal documento ou o retratasse publicamente. Pelo contrário, tenho a impressão de que ele está consolidando os erros acima mencionados. Por conseguinte, penso que devemos continuar nos preparando para o combate e, para isso, estaremos atentos ao que nos sugerem os Padres do deserto.
Recordemos que a conversa entre eles girava em torno da questão de saber qual virtude ou prática poderia proteger o monge de todas as artimanhas do demônio e conduzi-lo com segurança ao ápice da perfeição. Alguns defendiam o jejum e as vigílias noturnas para se unirem mais rapidamente a Deus com um espírito ágil.
Atualmente, o jejum corporal desapareceu quase completamente da vida oficial da Igreja, assim como certos aspectos associados a ele. É preciso esclarecer que os profetas do Antigo Testamento nunca criticaram o jejum em si, mas o fato de não ser praticado com a atitude correta. Quando o jejum e as vigílias noturnas não têm como objetivo a santidade em geral, tais práticas não contribuem para o crescimento das virtudes cristãs.
Um dos prefácios quaresmais descreve muito bem: “Pelas nossas privações voluntárias, ensinais-nos (…) a dominar o nosso orgulho e a imitar a vossa generosidade, partilhando os nossos bens com os necessitados”. Aqui nos é mostrada a motivação correta: a renúncia consciente e a moderação no consumo de alimentos servem para fortalecer nossas forças espirituais, bem como para abrir nossos corações para reconhecer mais facilmente a necessidade dos outros e servi-los.
Sem dúvida, os Padres do deserto têm razão ao dizerem que, por meio do jejum e das vigílias noturnas, nosso espírito se torna mais ágil e pode se unir mais facilmente a Deus. Quando pensamos menos em comida e no prazer de certas iguarias requintadas, quando nos desligamos mais de nossos desejos sensuais, nosso espírito se torna mais livre para se elevar a Deus. Era certamente isso que os Padres tinham em mente ao recomendarem a prática do jejum.
As vigílias noturnas também são frutuosas para o nosso espírito, pois nos permitem aproveitar o silêncio da noite para rezar a Deus de forma mais recolhida e, assim, nos unirmos mais facilmente a Ele. Em tudo isso, é importante ter presente a “discrição” sugerida por Santo Antônio Abade para evitar excessos. O jejum e a moderação do apetite não significam passar fome, mas praticar uma renúncia que, longe de nos prejudicar, nos fortalece.
Amanhã, continuaremos a abordar outros aspectos do jejum e das vigílias, prestando especial atenção às palavras de Jesus, que afirma que certos tipos de demônios só podem ser expulsos por meio do jejum e da oração (Mt 17,21). É importante saber disso para o combate espiritual!