Jo 13,12-30
Depois que lhes lavou os pés e que retomou as suas vestes, tendo-se tornado a pôr à mesa disse-lhes: “Compreendeis o que vos fiz? Chamais-me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se eu, pois, sendo vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, como eu vos fiz, assim façais vós também. Em verdade, em verdade, vos digo: O servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. Se compreendeis estas coisas, bem-aventurados sereis se as praticardes.
Não falo de todos vós; sei os que escolhi; porém é necessário que se cumpra o que diz a Escritura: O que come o pão comigo levantará o seu calcanhar contra mim (Sl 40,10). Desde agora vo-lo digo, antes que suceda, para que, quando suceder, creiais que sou eu (o Messias). Em verdade, em verdade, vos digo, que quem recebe aquele que eu enviar, a mim recebe, e o que me recebe, recebe aquele que me enviou”.
Tendo Jesus dito estas coisas, turbou-se em seu espírito e declarou abertamente: “Em verdade, em verdade, vos digo, que um de vós me há-de entregar”. Olhavam, pois, os discípulos uns para os outros, não sabendo de quem falava. Ora um dos seus discípulos, ao qual Jesus amava, estava recostado sobre o seio de Jesus. A este fez Simão Pedro sinal, para lhe dizer: “De quem fala ele?”. Aquele discípulo, pois, tendo-se reclinado sobre o peito de Jesus, disse-lhe: “Senhor, quem é esse?”. Jesus respondeu: “É aquele a quem eu der o bocado que vou molhar”. Molhando, pois, o bocado, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. Atrás do bocado, entrou nele Satanás. Jesus disse-lhe então: “O que queres fazer, faze-o depressa”. Nenhum, porém dos que estava à mesa percebeu por que lhe dizia isto. Alguns, como Judas era o que tinha a bolsa, julgavam que Jesus lhe dissera: “Compra as coisas que nos são precisas para o dia da festa”, ou: “Dá alguma coisa aos pobres”. Ele, pois, tendo recebido o bocado, saiu logo. Era já noite.
Em tudo o que diz e faz, Jesus nos serve de exemplo insuperável. Ao lavar os pés como Senhor e Mestre, ele estabelece um modelo para seus discípulos sobre como devem servir uns aos outros em seu Espírito. Esse mesmo padrão se aplica a todos os discípulos subsequentes do Senhor, que, ao longo dos séculos, Ele envia para levar o Evangelho até os confins da Terra. Sua atitude deve estar imbuída do espírito de caridade, assim como eles viram em seu Senhor e Mestre.
A passagem de hoje nos leva ao trágico evento da traição de Judas. Assim como os outros discípulos, ele também foi escolhido por Jesus. No entanto, nele se cumpriu a Escritura: “Aquele que come o meu pão levantou contra mim o seu calcanhar”.
Ao meditar sobre essa passagem, alguns se perguntam se Judas foi, por assim dizer, obrigado a agir dessa maneira para que as Escrituras pudessem ser cumpridas. Há alguns dias, já havíamos abordado a distinção muito necessária entre a vontade ativa de Deus e o que Ele permite que aconteça. Judas não precisava trair o Senhor, pois não estava fadado a isso. Ele o fez por motivos básicos. As Escrituras simplesmente previram que um de seus discípulos o trairia.
Jesus traz seus discípulos fiéis para o mistério de seu amor e os vincula a si mesmo, a ponto de estar presente quando os envia em seu nome. Aqueles que os receberem serão abençoados, pois receberão Jesus por meio deles, e quem o recebe recebe também o Pai Celestial que o enviou. Isso continua sendo verdade até hoje, desde que os discípulos permaneçam fiéis ao Mestre e a Seus ensinamentos.
No círculo de seus discípulos, Jesus declara abertamente que um deles o trairá. Que choque essa declaração deve ter sido para eles! Eles haviam deixado tudo para seguir Jesus, vivido com ele, servido sua missão e testemunhado seus sinais e milagres. Certamente era inimaginável para eles que alguém traísse seu Senhor, e eles não sabiam a quem ele estava se referindo. Certamente, a situação era insuportável para eles! Mas, a pedido de Pedro, João, o discípulo que Jesus amava especialmente, perguntou a ele quem era o traidor. Jesus respondeu: “É aquele a quem eu der o bocado que vou molhar”. E, molhando o pedaço, entregou-o a Judas, filho de Simão Iscariotes”.
Que cena arrepiante! O que estava oculto até então se torna claro. De fato, foi Judas quem traiu o Senhor, e sua memória permanece até hoje como um aviso a todos os que amam Jesus, para que nunca se desviem e lutem com todas as forças para não traí-lo também.
Jesus disse a Judas: “O que queres fazer, faze-o depressa”. Depois de pegar o pedaço que Jesus lhe deu, Judas saiu imediatamente, como diz o Evangelho.
A decisão estava tomada. Não havia mais volta para Judas. É significativo que a passagem escolhida para hoje termine com a frase “Era já noite”.
Era a noite da traição a Deus. O inconcebível, o horrível, o sombrio e o demoníaco pareciam vencer a luz. Somente Deus poderia atravessar essa noite e arrancar a vitória das trevas por meio do maior ato de amor.