Ouvindo a sabedoria

Sir 4,12-22 

A sabedoria inspira a vida a seus filhos e acolhe os que o procuram. Quem a ama, ama a vida; os que madrugarem por ela receberão o gozo da parte do Senhor. Quem a adquirir, herdará a glória e, onde ela entrar, Deus abençoará. Os que a servem são obedientes ao Santo; pois Deus ama os que a ama. Quem a escutar, julgará as nações; quem olhar para ela habitará seguro. Se alguém confiar nela, vai recebê-la em herança, e na sua posse continuarão seus descendentes.

Ela caminha com ele sem se dar a conhecer e no começo põe-no à prova; faz vir sobre ele temor e tremor e o experimenta com as provas da sua instrução, até que ele a conserve em seus pensamentos e nela deponha sua confiança. Ela então voltará diretamente a ele e o confirmará, e lhe dará alegria: revelará a ele os seus segredos e lhe confirmará o tesouro do conhecimento e a compreensão da justiça. Caso, porém, se desvie, ela o abandonará e o entregará às mãos do inimigo. 

Ouvimos o louvor da sabedoria e logo percebemos que a maioria dos versículos pode ser aplicada diretamente ao Espírito Santo:  

“Aquele que a ouvir julgará as nações; aquele que a cultivar plantará sua tenda em segurança.” 

A capacidade de julgar com sabedoria depende de sermos capazes de assimilar a luz do Espírito Santo além de nosso conhecimento meramente racional. De fato, é o Espírito Santo que nos dá uma visão sobrenatural, ou, em outras palavras, nos permite ver as situações que temos de julgar da perspectiva de Deus. É por isso que é uma dádiva tão grande o fato de termos na Igreja um Magistério que, em muitas áreas, nos ajuda a discernir os acontecimentos do mundo a partir da perspectiva da fé.  

Sirácida nos exorta a ouvir a sabedoria. Em alemão, existe a bela palavra “lauschen”, que significa concentrar toda a atenção da mente e do coração no que está sendo dito a nós. Dessa forma, a Palavra do Senhor, a semente lançada pelo Semeador, não se perderá, nem o demônio poderá roubá-la, nem os espinhos e cardos a sufocarão; mas dará frutos abundantes, como Jesus nos dá a entender na parábola (Mt 13,3-8.19-23). 

Quando ouvimos a Deus como deveríamos, podemos penetrar em Seu ser mais íntimo e, assim, plantar nossa tenda em segurança, como nos diz a leitura. Então, encontramos nossa casa Nele e o Espírito de Deus nos ensina a permanecer nela. Quanto mais atentamente assimilarmos Sua palavra, movendo-a em nosso coração como Nossa Senhora (Lc 2:19), mais absorveremos o amor de Deus, que instrui nosso espírito e alegra o coração.  

“No início, ele o conduz por caminhos tortuosos, instila nele medo e tremor, atormenta-o com sua disciplina, até que ele possa confiar nele e o testa com suas exigências. Mas então ele o conduzirá pelo caminho reto, o animará e lhe revelará seus segredos.” 

Nenhum de nós gosta de tentações, que nos testam, complicam nossa vida e nos lembram da luta em que estamos imersos. No entanto, também podemos vê-las de outra perspectiva, como sugere a leitura de hoje. São provações que têm o objetivo de fortalecer nossa vontade e consolidar nossa decisão de seguir o Senhor. Se rejeitarmos, por amor a Ele, tudo o que possa nos separar Dele, nos tornaremos mais fortes e o Senhor recompensará nossa fidelidade. 

Em outras palavras, Deus nos dá oportunidades de ganhar mérito e, ao mesmo tempo, nos purifica. Esse é o sentido da afirmação de que o Senhor “instila temor e tremor” em nós; não para nos desanimar, mas para nos fazer clamar a Ele em nossa angústia interior. Infelizmente, muitas vezes acontece que, quando as coisas estão indo bem por fora, tendemos a nos esquecer de Deus. Por outro lado, quando surgem problemas e angústias, nós nos lembramos Dele e nosso coração O busca. 

Essa é exatamente a intenção de nosso Pai, que sempre tem em vista nossa salvação eterna. Quando nós, em nível pessoal, ou a humanidade em geral, corremos o risco de esquecê-Lo, o temor e o tremor podem ser remédios, por mais amargos que sejam, para nos trazer de volta ao caminho certo e trazer Deus à nossa lembrança. Pois a pior coisa que pode nos acontecer é nosso coração se afastar de Deus, de modo que todos os tipos de ídolos facilmente tomem seu lugar.  

Por outro lado, quando o coração se volta para Deus, Ele também se volta para nós e percebemos novamente Seu cuidado amoroso e Sua proximidade e retornamos ao caminho certo. Assim, recuperamos totalmente Sua amizade e Ele pode nos revelar os segredos de Seu amor.  

Então, nossos olhos se abrem e começamos a ver; a cegueira cede e a luz radiante do Espírito Santo nos ilumina. O que vemos então é incomparavelmente maior do que qualquer coisa que o mundo possa nos oferecer e nos ajudará a buscar e encontrar nossa plenitude somente em nosso Pai Celestial. 

Se isso acontecer, a sabedoria de Deus começará a reinar em nosso coração.

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