O EVANGELHO DE SÃO JOÃO | “Sua hora ainda não havia chegado”

Jo 7,25-36 

 Então alguns de Jerusalém diziam: “Não é este aquele que procuram matar? Eis que fala com toda a liberdade e não lhe dizem nada. Será que os chefes do povo tenham verdadeiramente reconhecido que este é o Cristo? Nós, porém, sabemos donde este é; o Cristo, quando vier, ninguém saberá donde ele seja”. Jesus, que ensinava no templo, exclamou: “Vós me conheceis, e sabeis donde eu sou… eu não vim de mim mesmo, mas é verdadeiro aquele que me enviou, a quem vós não conheceis. Mas eu conheço-o, porque procedo dele, e ele me enviou”. Procuraram então prendê-lo; mas ninguém lhe lançou as mãos, porque não tinha ainda chegado a sua hora. 

Muitos do povo creram nele, e diziam: “Quando vier o Cristo, fará ele maior número de prodígios que os que este faz?” 

Os fariseus ouviram este rumor que dele fazia o povo; e os príncipes dos sacerdotes e os fariseus enviaram guardas para o prenderem. Jesus disse-lhes: “Ainda por um pouco estou convosco, depois vou para aquele que me enviou. Vós me buscareis, e não me encontrareis; nem vós podeis vir onde eu estou”. Os judeus disseram, pois, entre si: “Para onde é que irá ele, que o não encontraremos? Irá, porventura, para os que se acham dispersos entre as nações, e pregará aos gentios? Que quer dizer esta palavra que ele nos disse: Vós me buscareis, e não me encontrareis, e onde eu estou, vós não podeis vir?”. 

Por que razão estavam os líderes religiosos judeus tão determinados a levar Jesus à morte? Até mesmo Pilatos, o procurador romano, percebeu, durante o interrogatório, que Jesus era inocente e não podia ser objetivamente acusado de nada (Mt 27,18). Por que razão, então, uma perseguição tão feroz contra o Senhor numa fase tão inicial do Seu ministério público? Lembremo-nos de que até no lugar onde Ele havia sido criado, em Nazaré, queriam atirá-lo do penhasco. 

As próprias Escrituras apontam os motivos da perseguição. No início do capítulo 7 de João, ouvimos Jesus falar sobre o ódio do mundo, porque Ele testemunhou que as suas obras são más. No capítulo 8, o Senhor afirma que os judeus (referindo-se àqueles que O perseguiam) têm o diabo como pai (v. 44). Nesse contexto, também devemos incluir a passagem que ouvimos ontem, na qual Jesus afirmou que aqueles que O perseguem não buscam a glória de Deus, mas a sua própria glória (Jo 7,18), não julgam com retidão (Jo 7,24), etc. Podemos encontrar mais razões para a cegueira dos seus perseguidores, que levaram à morte cruel do Filho de Deus, que não fez mais do que proclamar o Reino de Deus e torná-lo claro por meio dos sinais que realizou. 

Há uma interação infeliz de muitos elementos diferentes. 

Por mais doloroso que seja o fato de o Filho de Deus ter sido tratado desta forma, todos esses eventos que conduziram a este ponto podem servir de lição para nós. No caminho de seguir Cristo, é importante que, desde o início, prestemos atenção ao nosso coração, porque, como o Senhor diz, é do coração que vem o mal: “Do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfémias” (Mt 15,19). 

Devemos resistir pela raiz a tudo o que procede das nossas más inclinações e que pretenda orientar os nossos pensamentos e sentimentos em sentido contrário ao que o Evangelho nos ensina. Se não o fizermos, o mal desenvolver-se-á e começará a dominar cada vez mais, a ponto de dar origem a atos malignos. 

Como se pode observar naqueles que desejam tirar a vida a Jesus, os pensamentos malignos contra Ele apoderaram-se deles de imediato e sucumbiram cada vez mais ao domínio do diabo. O ponto fraco que o diabo poderia ter usado foi a inveja, talvez também o orgulho de ver um homem sem formação académica a apresentar-se como Deus. Seguiu-se o pensamento erróneo de que Jesus poderia enganar o povo e, como resultado, a posição dos líderes religiosos junto do povo seria posta em causa. Como não resistiram a esses pensamentos distorcidos, mas lhes deram rédea solta, o diabo pôde usá-los como instrumentos para realizar os seus planos perversos por meio deles. Esta é a situação “por trás das cortinas” da qual devemos estar cientes enquanto pessoas espirituais. 

Se nos deixássemos levar pelas nossas más inclinações, a mesma coisa aconteceria conosco. 

No entanto, a hora de Jesus ainda não tinha chegado. Ninguém poderia tocar nEle, pois não são os Seus perseguidores que determinam o momento da Sua entrega. Somente o Pai Celestial é que determina a Sua hora. Jesus tem o seu lar no Pai e os judeus ainda não podem chegar lá. Para isso, assim como todos nós, terão primeiro de receber o perdão dos pecados que Jesus obterá para a humanidade quando chegar a Sua hora, assumindo sobre Si toda a culpa que separa os homens de Deus e os escraviza. 

Neste momento, o destino dos homens mudará se acreditarem naquele que o Pai enviou. Nessa hora, o céu abrirá as suas portas a todos os que ouvirem a voz do Pai, e Jesus libertar-nos-á da escravidão da morte, do pecado e do diabo. O Senhor está a encaminhar-se para essa hora. Uma vez que Ele tenha sofrido e ressuscitado dos mortos, nós também poderemos ir até Ele, que Se deixará encontrar por nós. 

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