ITINERÁRIO QUARESMAL | Dia 36: “O esplendor da obediência”

Na meditação de ontem destacamos a obediência de São José, que acatou a vontade de Deus sem demora assim que a reconheceu. Sua atitude nos convida a refletir de forma mais geral sobre a virtude da obediência, que é um grande bem quando devidamente compreendida e praticada. 

A obediência está relacionada à escuta, a prestar atenção, a acatar e a responder… 

Quando Deus se dirige ao Seu povo através de Moisés, Ele começa exortando-os à escuta: “Ouve, ó Israel: o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Dt 6,4). 

O homem não pode tirar a sabedoria mais profunda de si mesmo, nem é capaz de atingir a meta de sua vida sem a ajuda de Deus. Ele precisa da direção e da orientação de Deus; ele precisa do Espírito Santo para conhecer a Deus como Ele realmente é. 

A escuta verdadeira do Senhor não é apenas uma escuta superficial, que só ouve o que Lhe agrada e ignora tudo o mais. Uma e outra vez ouvimos na Sagrada Escritura como Deus lamenta a surdez de Seu povo. A vontade do ouvinte não é orientada para o que é correto: ele não quer escutar, não inclina o seu ouvido e consequentemente não encontra entendimento (cf. Prov 2,1-4). 

São Paulo nos adverte que virá um tempo em que as pessoas não vão querer escutar a sã doutrina, mas se orientarão às fábulas, ou seja, aquilo que lhes agrada (cf. 2 Tim 4,3). 

Muitas vezes por trás desta atitude está uma concepção errada, ou pior ainda, uma imagem equivocada de Deus. A obediência é vista como sendo uma restrição à liberdade pessoal. Esta falsa noção de liberdade parece nos dar o direito de nos eximirmos do querer amoroso de Deus, e Sua vontade pode até ser vista como uma ameaça da qual devemos fugir. 

Esta imagem distorcida de Deus o apresenta a nós como uma espécie de tirano, que dá Suas ordens arbitrariamente de modo que não temos outra alternativa a não ser acatá-las servilmente. Mas a realidade é justamente o oposto! 

A imagem correta de Deus vendo-O como nosso Pai cheio de amor, abre o caminho para que queiramos conhecer qual é realmente a Sua vontade e a colocá-la em prática. Então já não será mais apenas um ato de obediência formal que nos sentimos obrigados a realizar interiormente porque sabemos que temos que cumprir os Seus mandamentos. Certamente esta obediência formal também é louvável e absolutamente necessária para que não percamos nosso rumo. É também uma expressão de amor a Deus, como o próprio Senhor nos diz: “Quem tem meus mandamentos e os observa é que me ama” (Jo 14,21). 

Não obstante, a nossa obediência a Deus pode adquirir um esplendor ainda maior quando consiste na busca sincera de viver de acordo com a vontade do nosso Pai até os mínimos detalhes. Aqui mergulhamos no plano de Deus para nós e para toda a humanidade. Desta forma, a obediência se converte em um grande tema do coração e a vontade de Deus se torna aquele alimento do qual Jesus se alimentou. Começamos a desejar este alimento e qualquer falso temor de Deus desaparece. 

Vemos, então, que a obediência não restringe a nossa liberdade pessoal de modo algum. Muito pelo contrário! O cumprimento prazeroso da vontade de Deus garante a liberdade humana, libertando as cadeias do apego a si mesmo, o aprisionamento ao próprio “eu”, e o apego desordenado ao mundo e às pessoas… O cumprimento da vontade de Deus nos insere no Seu mundo. 

Façamos uma pausa para refletir como a obediência será praticada na eternidade. Terá a plenitude aquele esplendor que já podemos vislumbrar hoje quando cumprimos a Vontade de Deus com alegria. Será a expressão do amor reverente de todos aqueles que estão reunidos ao redor do Trono de Deus e que desfrutam da Sua Presença. Todos estarão unidos nesta santa obediência, sempre e prontamente atentos ao menor desejo de seu amado Pai Celestial. 

A obediência dá agilidade ao caminho de seguimento de Cristo e capacita o Espírito de Deus a realizar a Sua obra cada vez mais na alma. É justamente esta obediência que nos leva a uma atitude de grande vigilância espiritual, pois não só permanecemos no cumprimento formal da vontade de Deus de modo geral, mas a buscamos e a reconhecemos cada vez mais cuidadosamente nas situações concretas da vida. 

A obediência, que cresce e amadurece mais e mais, faz com que seja fácil descobrirmos e fazermos a vontade de Deus. Assim, converte-se em um caminho real no seguimento de Cristo. 

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