O santo itinerário da Quaresma também inclui – sempre que possível – o jejum corporal e a renúncia a certas coisas.
Assim, nos exercitamos em uma ascese que é proveitosa para a vida espiritual. Se é praticada corretamente, tornam-se realidade as palavras de um dos Prefácios da Quaresma:
“Pela penitência da Quaresma, Corrigis nossos vícios, Elevais nossos sentimentos, Fortificais nosso espírito fraterno e nos garantis uma eterna recompensa, por Cristo, Senhor nosso.”
A renúncia voluntária favorece um estilo de vida espiritual. Aqui não está em primeiro plano obter tudo o que podemos precisar para viver bem; mas começar a nos conter a fim de nos concentrarmos no essencial. Isto corresponde à prudência cristã, que nos chama a optar pelo que é proveitoso no caminho para o Senhor e a deixar para trás o que o impede. Sem dúvida, um estilo de vida amplamente orientado para os prazeres sensuais da vida é um obstáculo a um modo de vida espiritual. Um ascetismo fecundo, por outro lado, favorece-a.
Embora o jejum físico só adquira seu valor espiritual quando anda de mãos dadas com a penitência interior – ou seja, a conversão a Deus – ele ainda tem um valor considerável. Não em vão, a Igreja tem insistido nesta prática ao longo dos séculos. Somente nas últimas décadas as regras do jejum foram relaxadas a tal ponto que parece não ter qualquer relevância para nosso caminho de seguimento de Cristo. Em todo caso, cabe agora aos próprios cristãos impor voluntariamente o jejum e certas restrições ascéticas a si mesmos.
Vale lembrar que durante muito tempo era habitual jejuar às quartas e sextas-feiras sobre pão e água. Também naqueles mosteiros que têm preservado o jejum e a penitência corporal, ainda encontramos diversas limitações aos prazeres dos sentidos. Estas servem ao mesmo propósito que todas as formas proveitosas de ascese: são para fortalecer a alma e salvaguardar a liberdade de lidar com as coisas deste mundo sem que elas adquiram demasiada influência ou mesmo domínio sobre nós.
Deve-se lembrar também que Jesus aponta que certos tipos de demônios só podem ser expulsos pelo jejum e a oração (Mt 17,21). O jejum, portanto, tem uma função especial em afugentar os poderes demoníacos hostis a Deus.
Além disso, o jejum voluntário é um sacrifício que Deus certamente aceitará e usará, se o oferecermos a Ele na atitude correta. Lembremos que Jesus orou e jejuou por quarenta dias no deserto antes de começar seu ministério público.
Portanto, há boas razões para incluir conscientemente o jejum em nossa vida espiritual. Ele certamente deve ser adaptado à nossa situação de vida, e não ser exagerado de modo a nos tornar incapazes de cumprir as tarefas que nos foram confiadas.
Também se aplica ao jejum a afirmação de que “Deus ama o que dá com alegria” (2Cor 9,7), aquele que faz estas obras em segredo, sem buscar o reconhecimento dos homens (Mt 6,17-18).
Não caiamos em enganos quando se trata de jejuar, acreditando que poderíamos sofrer uma perda em nossa qualidade de vida, ou que seríamos incapazes de fazê-lo, que poderíamos até adoecer, ou que o jejum só foi importante no passado. Desconsideremos as muitas objeções que nossa natureza caída levanta a cada sacrifício que queremos fazer.
Se quisermos que o santo itinerário para a Ressurreição do Senhor se torne um fogo abrasador, que arda por viver e anunciar o amor de Deus, então podemos considerar o jejum corporal e os sacrifícios como “boa lenha”, que alimenta a chama do amor e a mantém viva.
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Meditação sobre a leitura do dia: http://br.elijamission.net/escolher-a-vida-e-escolher-deus/