Dominus Iesus’ e a verdadeira fé da Igreja (I)

Hoje começa o Tempo do Advento, no qual nos preparamos para o maravilhoso evento que ocorreu em Belém: o nascimento do Filho de Deus, o Redentor da humanidade. 

Portanto, o dia de hoje marca o início de um novo ano litúrgico. Com a ajuda de Deus, tentarei publicar uma meditação e os “3 minutos para Abba” todos os dias do ano, como tenho feito nos últimos anos. Como eu – e também meus colegas de trabalho do Harpa Dei – frequentemente nos encontramos em viagens missionárias, às vezes teremos de recorrer a meditações de anos anteriores. De tempos em tempos, também abordarei outros temas espirituais que não estão diretamente relacionados à leitura ou ao evangelho do dia. 

Qualquer pessoa que conheça minhas meditações diárias saberá que é muito importante para mim que todo o conteúdo espiritual e teológico em minhas interpretações da Sagrada Escritura esteja em conformidade com a doutrina autêntica da Igreja. Caso contrário, seriam apenas ideias humanas, que podem facilmente levar a erros graves. Esses erros não apenas privam as almas de um alimento espiritual saudável, mas também envenenam e obscurecem suas mentes. 

Não podemos ignorar o fato de que a evangelização na Igreja está passando por uma grande crise como resultado da direção errada tomada pela atual liderança da Igreja. Essa crise atingiu o clímax com as recentes declarações do Papa Francisco em Cingapura de que todas as religiões são um caminho para Deus. Essas palavras foram uma continuação das declarações errôneas contidas no documento de Abu Dhabi. Tudo isso gera grande confusão e angústia entre os fiéis que desejam permanecer fiéis à Palavra de Deus e à doutrina autêntica da Igreja. 

Tais declarações, que representam um sério desvio do mandato missionário do Senhor para a Igreja, exigem uma correção clara. É por isso que, na meditação de hoje e de amanhã, citarei algumas passagens da declaração “Dominus Iesus”, que o Cardeal Ratzinger, quando ainda era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, escreveu no ano 2000. Por mais que nos encontremos abertamente com outras religiões, nunca podemos permitir que surja confusão, nem que a mensagem única que o Senhor Ressuscitado confiou à Igreja seja enfraquecida. Se isso acontecesse, a humanidade seria privada da mensagem de salvação que a Igreja, como a fiel Esposa de Cristo, tem proclamado ao longo dos séculos. 

As seguintes palavras do Evangelho devem, portanto, servir como uma estrela guia para nós neste novo ano litúrgico: 

“O Senhor Jesus, antes de subir aos céus, confiou a seus discípulos o mandato de pregar o evangelho ao mundo inteiro e batizar todas as nações: “Vão pelo mundo inteiro e preguem o evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem se recusar a crer será condenado” (Mc 16,15-16); ”Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que eu lhes ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos“ (Mt 28,18-20; cf. também Lc 24,46-48; Jo 17,18; 20,21; Atos 1,8)”. 

Com essas passagens do Evangelho, o então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – Cardeal Ratzinger – inicia sua importante declaração “Dominus Iesus”. Esse texto foi necessário porque, em certos círculos da Igreja, essas palavras elementares do Evangelho começaram a ser relativizadas ou questionadas. Vamos ouvir como o Cardeal Ratzinger descreve o fato no artigo 4: 

“A perene proclamação missionária da Igreja está hoje ameaçada por teorias relativistas que procuram justificar o pluralismo religioso, não apenas de facto, mas também de iure (ou em princípio). Consequentemente, verdades como o caráter definitivo e completo da revelação de Jesus Cristo, a natureza da fé cristã em relação à crença em outras religiões, o caráter inspirado dos livros da Sagrada Escritura, a unidade pessoal entre o Verbo eterno e Jesus de Nazaré, a unidade entre a economia do Verbo encarnado e do Espírito Santo, a unicidade e a universalidade salvífica do mistério de Jesus Cristo, a mediação salvífica universal da Igreja (…) são, por exemplo, consideradas ultrapassadas. 

A declaração “Dominus Iesus” tinha, portanto, a intenção de relembrar as verdades fundamentais da fé católica, para que o diálogo inter-religioso não caia no erro que atingiu um clímax dramático nas declarações do Papa Francisco em Cingapura, onde ele considerou todas as religiões como um caminho para Deus. 

O Cardeal Ratzinger continua em Dominus Iesus: 

“Para remediar essa mentalidade relativista cada vez mais difundida, é necessário, antes de tudo, reiterar o caráter definitivo e completo da revelação de Jesus Cristo. De fato, deve-se acreditar firmemente na afirmação de que no mistério de Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado, que é ‘o caminho, a verdade e a vida’ (cf. Jo 14,6), é dada a revelação da plenitude da verdade divina: ‘Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e todo aquele a quem o Filho o quiser revelar’ (Mt 11,27). “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está no seio do Pai, ele o revelou“ (Jo 1,18); ‘porque nele está toda a plenitude da Divindade’ (Cl 2,9-10)”. 

Deve ficar claro para todos os fiéis que a proclamação do Evangelho é, por um lado, uma oferta do amor de Deus a todas as pessoas e, por outro lado, uma necessidade urgente para cada pessoa, para que ela não viva fora da verdade. Entretanto, para proclamar a mensagem do Senhor com verdade, ela não pode ser relativizada ou adulterada. Nesse contexto, as palavras de São Paulo aos Gálatas são muito claras: 

“Admiro-me de que tão depressa tenham abandonado aquele que os chamou pela graça de Cristo e se tenham voltado para outro evangelho – não que haja outro, mas porque alguns os estão perturbando e querem distorcer o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que vos temos anunciado, seja anátema! Novamente lhes digo o que já disse: se alguém lhes pregar um evangelho diferente daquele que vocês receberam, que seja anátema” (Gl 1,6-9). 

Amanhã continuaremos com esse tópico… 

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