1Cor 1, 17-25
Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o Evangelho; e isso sem recorrer à habilidade da arte oratória, para que não se desvirtue a cruz de Cristo. A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. Está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes (Is 29,14). Onde está o sábio? Onde o erudito?
Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus por loucura a sabedoria deste mundo? Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura de sua mensagem. Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria; mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos – quer judeus quer gregos –, força de Deus e sabedoria de Deus. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
É a sabedoria de Deus que leva Paulo a reconhecer que devemos voltar à essência do anúncio repetidamente: o perdão dos pecados graças ao sacrifício de Cristo na Cruz, e o amor infinito de Deus que eminentemente resplandece no sucesso da Cruz. O próprio Deus assume a culpa do homem, abrindo-lhe, assim, o caminho para a vida eterna desde que acolha o dom da fé.
A salvação do homem encontra-se na Cruz e não no acúmulo de sabedoria e conhecimento mundanos. A formação acadêmica só tem valor na medida em que é colocada a serviço de Deus e do próximo. Se, ao contrário, o homem edifica sobre ela seu valor próprio ou uma posição de poder, então se cumprem as palavras do texto de hoje: “Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes.”
A mensagem da Cruz é tão simples e ao mesmo tempo tão profunda! “De tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único” (Jo 3,16). Cabe agora a nós acolher esta mensagem no coração e compreender o seu significado no mais profundo do nosso ser: Deus é um Pai amoroso que quer conduzir o homem de volta a casa apesar de todas as suas falhas e de seu afastamento Dele – e lhe oferece um caminho que Ele mesmo preparou para nós na Pessoa de Seu Filho, que deu Sua vida para nos salvar.
Em contrapartida, a sabedoria do mundo não compreende a imensidão deste amor, porque é incapaz de ir além da dimensão natural da lógica, enquanto que o amor de Deus transcende a razão humana. A sabedoria mundana se move dentre suas próprias categorias, permanecendo fechada em seu pensamento enquanto pretende julgar a ação de Deus de acordo com seus próprios critérios.
Portanto, a luz sobrenatural de Deus é necessária para podermos conhecer o mais íntimo do Seu ser, isto é, Seu Coração. Neste sentido, São Paulo escreve: “O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar.” (1Cor 2,14) A estes concernem os gregos mencionados por São Paulo, que não abriram seus corações para a mensagem do Senhor.
Em vez disso, os judeus pedem sinais. Mas mesmo que os recebam, não os entendem corretamente ou até mesmo os interpretam com um sentido diferente. No pior dos casos chegaram ao ponto de dizer que Jesus realizou seus sinais através da influência de Satanás (cf. Lc 11,15). Isto significa que os judeus não confiavam na auto manifestação divina, mas que queriam estabelecer suas condições próprias para acreditar, como vemos especialmente no momento da crucificação: “Os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos também zombavam dele: ‘Ele salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é rei de Israel, desça agora da cruz e nós creremos nele!’” (Mt 27,41-42)
A mensagem da Cruz é dirigida ao coração do homem e quer despertar a fé nele, a fé no amor de Deus. Não se trata simplesmente de um conhecimento teórico ou de uma prova da existência de Deus, mas é um convite para entrar num relacionamento de amor com Ele.
Não é fácil para o homem compreender a humildade e o amor de Deus, porque frequentemente ele mesmo está muito distante desta atitude. É por isso que o Espírito de Deus vem em nosso auxílio para nos revelar o mistério da grandeza divina: um Deus que se coloca a serviço do homem, que não se recusa tornar-se homem e assumir toda a condição humana a fim de chamá-lo de volta a Ele.
Quando aceitamos o Seu convite, também estamos nos dispondo a servir de forma altruísta.
A mensagem da Cruz não deve ser “diluída” pela sabedoria humana, pois nela reside o poder de Deus para tocar o homem, mesmo que o mundo a considere uma loucura. Assim, a mensagem do Evangelho, em sua essência, também pode ser transmitida por pessoas extremamente simples, como o foram os próprios discípulos do Senhor. “Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura de sua mensagem.”